Os chamados "search funds" ganharam tração no Brasil entre 2020 e
2021, segundo um estudo da Universidade Stanford, nos EIJA, lançado
neste segundo semestre. Dos 12 veículos estruturados desde 2016 no
pals, 5 foram montados nos últimos dois anos, mostra a pesquisa.
O search fund - que poderia ser traduzido livremente do inglês como
"fundo de busca" - é um veículo constituído por investidores para
procurar e comprar uma empresa com potencial de crescimento. Esse
tipo de estrutura une capital de risco e empreendedorismo.
Embora se assemelhe em termos de objetivos ao "venture capital", esse
tipo de operação tem uma diferença: o search fund, em geral, compra
100% do neg6cio, enquanto o VC costuma adquirir participação na
companhia investida. Após a aquisição, investidores previamente
escolhidos dentro do grupo se tornam "mentores" da companhia e
lideram o projeto para impulsionar o crescimento.
São investimentos que, na média, levam de seis a dez anos até a saída do
fundo, pela venda a um private equity ou com uma abertura de capital. A
pesquisa de Stanford aponta para uma taxa global de retorno médio
interno anualizado, no período entre 2009 e 2021, de 35,3%.
No Brasil, a mais recente aquisição do género foi consolidada no fim de
setembro, com a compra da empresa Quick Soft pelo search fund da
Tractus Capital. Na operação, o fundo adquiriu o controle da companhia,
mas manteve o fundador Énio Lindner como acionista minoritário e
conselheiro.
O Tractus faz parte da safra de search funds no Brasil criada em 2020.
Segundo o socio da SFCB, Guilherme Bruschini, especialista em search
funds e que estruturou o primeiro veiculo do género no pais entre 2015 e
2016, a aquisição ocorreu apos a análise de mais de 3 mil candidatas å
compra. "A ideia nessa operação é consolidar o negócio para depois abrir
o capital."
No país, o search fund é constituído como um fundo de investimento em
participações (FIP). Bruschini explica que a SFCB participou de seis
operações de aquisição e atualmente assessora dez search funds no
pals, constituídos nos últimos Cinco anos. "Nós temos feito a
estruturação dos veículos e conduzido a negociação com as candidatas,
incluindo memorando de entendimentos, 'due diligence', contrato de
compra e venda e acordo de acionistas."
Bruschini lembra que a segunda aquisição feita por um search fund no
pais ocorreu apenas em 2018. Foi a compra da plataforma de serviços de
seguros i4PRO pela Angulo Capital. "De lá para cá, a empresa tem
crescido muito com a expertise trazida pelo [atual CEO] Rafael Araujo,
com passagem pelo Pátria", afirma.
De acordo com o socio da SFCB, o ecossistema atual de search funds no
Brasil "tem entre 30 e 40 investidores ativos, que tendem a entrar em até
15 neg6cios". Os alvos, em geral, são empresas familiares consolidadas,
que podem entrar em um ciclo de alto crescimento com o aporte de
capital e conhecimento trazido pelos fundos. "Quando a operação é
concretizada, um profissional altamente qualificado entra na empresa
que já tem histórico e, com isso, vai trazer governança, 'expertise' e levar
a organização a um crescimento muitas vezes exponencial."
Os principais desafios nas negociações, afirma o especialista, são a
heterogeneidade do perfil das empresas buscadas e as "peculiaridades"
dos grupos familiares. "Tem muito negócio que cresceu de forma
orgânica, mas sem estrutura robusta de governança e compliance. Isso é
relativamente comum em empresas controladas por uma família."
O contrato de aquisição, explica o sécio da SFCB, normalmente prevê
uma espécie de bônus de avaliação atrelado ao desempenho do negócio,
que pode ser pago aos vendedores um ou dois anos após a conclusão da
aquisição. "Há um percentual, normalmente entre 20% a 30%, que é o
'earn out' [ganho extra aos vendedores em fusões e aquisições com base
no desempenho após a aquisição], atrelados a métricas de faturamento
ou crescimento."
De acordo com Bruschini, a faixa de negócios dos search funds no Brasil
tem se situado entre R$ 80 milhões a R$ 150 milhões. "A expressiva
maioria dos negócios feitos ou sendo conduzidos está nesse intervalo",
diz.
O especialista afirma ainda não ter havido caso de saída de search fund
no pais. "A tendência é que saídas comecem a ocorre em breve. A
pandemia talvez tenha dado uma atrasada. O ideal é que seja um IPO
[oferta inicial de ações], mas isso depende da janela de mercado e da
tese. E há ainda fundos de private equity que podem se interessar em
pegar a empresa no estágio atual e levar ao IPO."
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